quarta-feira, 8 de abril de 2009

DOIS TEXTOS SOBRE PENSAMENTO E REALIZAÇÃO ESPIRITUAL

PODERES DO PENSAMENTO
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- Por Omraam Mikhaël Aïvanhov -

Devem vocês saber que, se forem assaltados por imagens que vêm atormentá-los, têm a possibilidade de transformar essas imagens, de concentrarem sobre elas para lhes dar outras formas, outras cores: elas acabarão por ceder a sua vontade.

Suponhamos que, antes de adormecer, durante aquela fase que atravessamos entre a vigília e o sono, encontrem-se a caminhar por uma estrada lamacenta ou, então, numa floresta cheia de perigos. Que devem fazer? Deixar as imagens desenrolarem-se? Suportá-las passivamente?... Quando estão adormecendo, encontram-se na fronteira entre o plano físico e o plano astral, estão já a penetrar na região astral e esses clichês que começam a invadi-los têm um sentido, predizem algo, advertem vocês de que certos acontecimentos desagradáveis irão atravessar no seu caminho. Também pode acontecer o contrário: encontrarem-se num jardim maravilhoso, coberto de flores, de pássaros e de música e estas imagens anunciarem um bom período para vocês.

Mas voltemos ao caso em que vocês são visitados por imagens tenebrosas. Apesar de já estarem mergulhando no inconsciente, podem manter uma certa lucidez e reagir, fazendo um esforço, por intermédio do pensamento, para penetrar numa região superior, e aí já serão imagens luminosas que começarão a aparecer. Isto não quer dizer que irão modificar realmente o rumo dos acontecimentos; as dificuldades e as provações virão assaltar vocês, pois dependem, freqüentemente, de condições exteriores a vocês. Mas como mudaram aquelas imagens dentro de vocês, desencadearam no seu foro íntimo outras correntes, outras forças que vêm socorrê-los. Não podem impedir que os acontecimentos exteriores se produzam, mas podem remediá-los interiormente, preparando em vocês as forças que permitirão enfrentá-los.

O inverno é um período difícil, nas se souberem se aquecer, tudo correrá bem. Passa-se o mesmo na vida interior: precisam estar conscientes do que se passa em seu interior. Ser assaltado por imagens tenebrosas e por sensações dolorosas é fatal, pois vivemos num mundo atravessado por toda a espécie de violências; portanto, é normal sofrermos as repercussões disso, nada podemos fazer a esse respeito. A questão não está em mudar o mundo, isso é impossível, mas em melhorar o nosso estado interior. Não podemos transformar o mundo inteiro, mas podemos transformar a nós mesmos. Transformar o mundo é uma tarefa para Deus e nunca nos tornaremos responsáveis por não o ter feito. Aquilo que nos é pedido é que nos decidamos a transformar ao menos uma criatura na terra, e essa criatura somos nós mesmos.

Portanto, logo que sentirem em seu interior correntes nocivas, necessidades primárias, grosseiras, sensuais, em vez de se deixarem levar por essas correntes sem fazer nada (porque pensam que nada podem fazer), não senhor! Devem reagir. Quando conseguimos melhorar o nosso estado interior é o mundo inteiro que se transforma, porque estamos a vê-lo com outros “óculos”. Por que é que os enamorados vêem o mundo tão belo? Porque neles tudo é belo e poético. Lá fora chove, neva, mas como vão ter um encontro, para eles existe o sol, e céu azul, o canto dos pássaros, o perfume das flores, pois nos seus corações é primavera. Os apaixonados são um ensinamento magnífico para os espiritualistas!

O verdadeiro espiritualista está convicto de que o pensamento é uma realidade e de que é nele que residem todos os poderes. Sabendo isso, aproveita todos os momentos da vida para trabalhar com o pensamento e, mesmo nas circunstâncias mais desfavoráveis, nas situações em que todos se sentem infelizes, esmagados, revoltados, consegue encontrar a luz e a paz. O espiritualista está acima dos condicionamentos, ao passo que aqueles que não sabem trabalhar com o pensamento passam o tempo a queixar-se e sentem-se sempre vencidos. Esses não sabem que possuem um instrumento que pode colocá-los acima dos condicionamentos e, por isso, limitam-se, enfraquecem e mortificam-se.

O homem tem o poder de neutralizar os condicionamentos para que estes deixem de agir negativamente sobre ele. Mas tem de trabalhar para o conseguir. Se ficar sem fazer nada, à espera de que as condições se modifiquem, é evidente que será esmagado. Mesmo os maiores Mestres, quando encarnam na terra, freqüentemente têm de enfrentar as piores condições: privações, doenças, perseguições... Mas conseguem ultrapassá-las, porque adaptaram a filosofia do espírito. Portanto, daqui para o futuro, perante o que quer que aconteça, digam para si mesmos: “Sim, é verdade, estas condições são más, mas eu tenho a possibilidade de acionar dentro de mim correntes que são reais, que são poderosas e que darão resultados.” Nesse momento ficarão acima dos condicionamentos; de outra forma ficarão por baixo e eles esmagarão vocês. Se pensarem assim todos os dias, daqui a algum tempo, em todas as circunstâncias da vida, mesmo nas mais desfavoráveis, nas mais terríveis, triunfarão, porque saberão, pois é na ação que as forças interiores ultrapassam os condicionamentos exteriores.

O espírito está acima de tudo e, quando conseguirem unir-se a ele, identificar-se com ele, receber forças, sentir-se-ão apaziguados, iluminados. Mas quantas pessoas aceitaram esta filosofia? Na sua maioria, elas não trabalham com o espírito, esperam sempre por boas condições, e por isso são tão vulneráveis. Se lhes acontece obter alguns sucessos e ter um pouco de felicidade é pura e simplesmente porque alguém as ajudou ou graças a alguma circunstância exterior, que não durará, e não porque a sua filosofia seja verídica.

Dirão vocês: “Mas está a aconselhar-nos a viver no mundo subjetivo!” Pois bem, comecemos justamente por explorar o mundo subjetivo. Foi nele que Deus ocultou todos os poderes. Os materialistas não têm nenhum poder consciente no domínio dos pensamentos e dos sentimentos porque contam demasiado com o mundo objetivo, físico, material, e perderam a fé nas possibilidades do mundo interior; procuram mesmo apagar os sinais desse mundo.

Evidentemente, existe um perigo para os espiritualistas: é que, depois de saber que podem modificar a corrente dos seus pensamentos e dos seus sentimentos, que podem transformar a sua tristeza em alegria, o seu desalento em esperança, imaginam que também podem mudar facilmente o mundo exterior. Mas não! A vantagem do mundo subjetivo é que ele põe vocês em contato com as forças invisíveis, com as forças sutis da natureza. Esse mundo é uma realidade, mas não uma realidade concreta, material; e se, por estar tão convencidos daquilo que sentem, quiserem convencer os outros, irão deparar-se com graves decepções. Tanto o mundo objetivo como o mundo subjetivo existem, mas é necessário conhecer as correspondências, as relações que existem entre eles, para poder ajustá-los. Se, para vocês, o mundo interior se torna tudo, o mundo exterior deixa de contar; então aparecem as anomalias, as ilusões, os erros, e vocês se tornam grotescos. Quanto aos materialistas, que descuram o mundo sutil, esses se saem muito melhor no plano físico, é evidente, mas por outro lado perdem as possibilidades de se tornar criadores interiormente.

O verdadeiro criador é o homem do pensamento; é no pensamento que as coisas se criam. No plano físico nada se cria, copia-se, imita-se, fazem-se uns pequenos trabalhos. A verdadeira criação tem lugar no mundo espiritual. Portanto, mesmo que comandem a matéria, a dirijam e a obriguem a trabalhar para eles, os materialistas perdem o reino do espírito: nivelam-se com a matéria, descem ao seu plano e, portanto, perdem o poder de comandar, perdem a sua força mágica.

É por isso que eu digo para vocês: se souberem utilizar a sua vontade, o seu pensamento, o seu espírito, para dar forma a todos os impulsos que vêm de dentro de vocês, tornar-se-ão criadores, serão grandes forças. Mas não tenham ilusões! Lá porque o seu pensamento obedece vocês, lá porque são capazes de fazer um trabalho de transformação interior, não imaginem que o plano físico também obedecerá a vocês! Muitas pessoas não vêem a diferença e perdem a cabeça porque misturam os dois mundos. Há pouco falei dos enamorados, para os quais, quando têm um encontro marcado, o inverno se transforma em primavera. Essa primavera é real neles, mas no exterior continua a haver inverno. Se eles imaginarem que basta estender a mão e pronto, os pássaros virão cantar, a neve fundir-se-á... Bem, podem esperar! Pois bem, é o que fazem alguns espiritualistas... Eles imaginam! Alguns até acreditam que, se pronunciarem certas palavras mágicas, se abrirá um rochedo como no conto “Ali-Babá e os Quarenta Ladrões”, acreditam que lhes bastará dizer “Abre-te Sésamo!” para encontrarem tesouros que lhes permitirão viver na abundância até o fim da vida. Não, é muito mais razoável trabalhar do que estar assim à espera de tesouros.

Evidentemente, se o discípulo se esforçar todos os dias por transformar e embelezar tudo no domínio interior, o dos seus pensamentos e dos seus sentimentos, as correntes que assim criará poderão acabar por influenciar a matéria física; nessa altura ser-lhe-á possível produzir fenômenos objetivos: como tudo está ligado, as vibrações, as partículas, as ondas, as emanações, projetam-se e impregnam o mundo objetivo, que pode tomar-se tão radioso e luminoso como o mundo subjetivo. Mas, para o conseguir, quanto tempo e quantos exercícios são necessários!

Dê sempre a preponderância ao espírito, e não só estarão vocês acima das condições, como elas começarão até a mudar; as condições são algo morto, inanimado e, graças ao espírito, que está vivo, poderão mudá-las. A vida não permanece estática, estagnada, está sempre a deslocar as coisas. Utilizem o seu poder renovador, façam-no intervir, senão as condições continuarão eternamente a barrar o seu caminho.


* * *


"O poder mais formidável que Deus poderia ter concedido foi doado ao espírito. E como cada pensamento está impregnado do poder do espírito que o criou, é evidente que age. Sabendo isto, vocês podem se tornar benfeitores da humanidade. Cada ser pode enviar os seus pensamentos através do espaço, até às regiões mais longínquas, como se fossem mensageiros, criaturas luminosas que ele encarrega de ajudar os seres, de os consolar, de os esclarecer, de os curar. Todos os que fazem este trabalho conscientemente, pouco a pouco, penetram nos arcanos da criação divina."



ALGUMAS LEIS DA ATIVIDADE ESPIRITUAL
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- Por Omraam Mikhaël Aïvanhov -

Para o Céu, o que conta não são os êxitos que se alcança, mas os esforços que se faz, pois só os esforços mantêm vocês no bom caminho, ao passo que os êxitos muitas vezes levam vocês a abrandar a vigilância. Se não tiver alcançado o seu objetivo, se não tiverem obtido qualquer resultado, não importa; pelo menos trabalharam.

Por conseguinte, não devem pedir êxitos, pois eles não dependem de vocês, mas do céu, que lhes dará quando julgar conveniente. Aquilo que depende de vocês são os esforços, pois o Céu não pode fazê-los em seu lugar. Assim como ninguém pode comer por vocês, o Céu também não pode comer por vocês, quer dizer, fazer esforços por vocês; vocês é que deverão fazê-los. Os sucessos são determinados por ele, surgem quando ele quer e como ele quer, segundo o que ele acha preferível para a sua evolução. Quantos santos, profetas e Iniciados deixaram a terra sem ter conseguido algo em que se tinham empenhado! Apesar da sua luz, da sua integridade e da sua pureza não conseguiram fazer triunfar o seu ideal, o que prova bem que o êxito não dependia deles.

Alguns de vocês manifestam freqüentemente a seguinte inquietação: “Eu oro e medito, porém nada acontece. Por quê?” Na realidade, produzem-se grandes transformações, mas elas são de uma tal sutileza que vocês não as vêem. Retomem, pois, a coragem. Está escrito nos livros sagrados que Deus é fiel e verídico. Todos os esforços que fazem para trabalhar sobre a sua matéria interior, para a dominar e a espiritualizar a fim de se tornarem uma presença cada vez mais benéfica para o mundo inteiro, são registrados, e um dia verão os seus resultados. Quando? É a única coisa que é difícil saber, mas não devem se preocupar com isso, só lhes cabe trabalhar, deixando que o Céu determine quando, onde e como os seus esforços serão recompensados.

Aliás, os esforços encerram em si mesmos a sua recompensa. Depois de cada esforço, depois de cada exercício do pensamento, a vida adquire outra cor e outro gosto. Os Iniciados sentem tanta alegria e tanta felicidade com as mínimas coisas devidas, precisamente, ao trabalho espiritual que antes fizeram. Se não tivessem feito esse trabalho seriam como todas as pessoas levianas que não têm gosto por nada. Possuem tudo, nada lhes falta, mas perderam o gosto pelas coisas, porque interiormente não têm nenhuma atividade, nenhuma vida intensa.

Há que saber que nada é mais eficaz do que este trabalho, apesar de os resultados não serem visíveis imediatamente. Se eles se fazem esperar é porque o mundo espiritual, divino, é de mais difícil acesso que o mundo material, mas é necessário não abandonar o trabalho. Se abandonarem o trabalho é porque não têm ciência nem discernimento. Quanto tempo é necessário para que uma alface cresça? E quanto tempo pode viver um carvalho? Na vida interior encontramos exatamente as mesmas leis: se quiserem uma alface – falando simbolicamente – poderão colhê-la rapidamente, porém ela também murchará rapidamente; se quiserem um carvalho terão de esperar muito tempo, mas ele viverá séculos.

Então, trabalhem! Trabalhem, sem nunca fixar um prazo para a realização das suas aspirações espirituais. Se fixarem uma data para obter este ou aquele resultado interior, a vitória sobre este ou aquele defeito, apenas conseguirão crispar-se e o seu desenvolvimento processar-se-á de um modo menos harmonioso. Devem trabalhar para se aperfeiçoar sem fixar datas, pensando que têm a sua frente a eternidade e que, mais dia menos dia, conseguirão atingir essa perfeição que desejam. Devem fixar-se simplesmente na beleza do trabalho empreendido e dizer: “Visto que é tão belo, não me preocupo em saber se me faltam séculos ou milênios para lá chegar.”

Muitos espiritualistas pensam que assim que tomam esta ou aquela resolução as coisas vão decorrer exatamente como eles desejam, que todos os instintos vão submeter-se e que a sabedoria e a razão vão triunfar. Não têm idéia de que outras forças podem despertar e opor-se à realização dos seus projetos. E quando constatam que não tiveram o êxito que esperavam e no prazo em que esperavam, ficam irritados, furiosos, e vão importunar os outros com as suas ambições frustradas. Ninguém deve lançar-se na vida espiritual sem conhecer as suas leis, senão os resultados poderão ser piores do que se eles tivessem continuado entregues às preocupações vulgares.

Aliás, de uma maneira geral, as pessoas nunca devem iniciar uma atividade espiritual estando demasiadamente seguras de si próprias, pois essa segurança desencadeia outras forças que se opõem à realização. Já deveis ter notado isso. Comprometam-se a fazer determinado trabalho num certo dia e, passado algum tempo, já não têm qualquer desejo de o fazer. Contudo, se na altura em que se comprometerem estiverem sendo sinceros, estarão decididos a manter a sua resolução. Portanto, daqui para o futuro, não prometam muito intensamente, não anunciem os seus projetos a toda a gente, guardem os seus votos e os seus desejos só para vocês; assim, surgirão menos obstáculos a sua realização. Eis uma questão que é muito importante conhecer.

O discípulo não deve abraçar a vida espiritual sem possuir, previamente, certas noções, senão arriscará a ter surpresas muito desagradáveis. Podemos comparar o ser humano a uma árvore. Sim, tal como a árvore, ele tem raízes, um tronco e ramos onde crescem folhas, flores e frutos. Quanto mais a árvore cresce, mais as raízes se enterram, quer dizer, quanto mais o ser humano se eleva, mais riscos existem de que despertem nele as forças instintivas: a sensualidade, a cólera, o orgulho...

É necessário conhecer a natureza humana e compreender que um mecanismo desencadeado numa parte do nosso ser faz com que se desencadeie outro mecanismo noutra parte de nós mesmos. Falarão vocês: “Mas, então, se isso reforça os nossos instintos, não devemos consagrar-nos à vida espiritual.” Na realidade, existem meios para dominar essas forças e, graças a elas, alcançar as maiores realizações interiores. É aquilo a que se chama a alquimia espiritual. Sim, quantas coisas são necessárias conhecer para não nos perdermos.

E, mesmo quando obtiverem uma vitória, não se deixem adormecer, fiquem ainda mais vigilantes, porque o outro lado poderá atacá-los e, se deixarem surpreendê-los, poderão perder todas as vantagens que já adquiriram. São leis; como tudo está ligado, um movimento produzido numa região desencadeia outro movimento na região oposta. É por isso que, quando um Iniciado está a fazer um trabalho muito luminoso para toda a humanidade, mesmo sem querer ele desperta, suscita o outro lado, as trevas. Mas, como sabe isso, toma precauções. Não é por se despertar a hostilidade das forças tenebrosas que se deve renunciar a trabalhar para a luz. Também neste caso é necessário saber como não sucumbir, mas há que continuar o trabalho até à vitória e, ao mesmo tempo, aprender a utilizar as dificuldades como estimulantes.

Mas, sobretudo, nunca esqueçam de que na vida espiritual não cabe ao discípulo fixar os prazos para a realização. Senão, quando ele vê que as suas melhores aspirações não se realizam, fica destroçado ou, então, enfurece-se e renuncia. É pena renunciar pela simples razão de que os sucessos não chegaram na data fixada! É necessário continuar a trabalhar na plenitude, no esplendor e em paz, pois só dessa forma é que um dia atingirão a perfeição.

(Textos extraídos do excelente livro “Poderes do Pensamento” – Omraam Mikhaël Aïvanhov* - Coleção Izvor – Edições Proveta – Portugal.)

Notas: * Maiores detalhes sobre o mestre Aivanhov poderão ser encontrados no site – www.ippb.org.br – Há diversos textos dele em várias seções do site. Para localizá-los, basta clicar o seu nome na seção de procura por palavras do site. 

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